TROVADORISMO

Antes de tudo, é fundamental que se tenha conhecimento do contexto histórico de um país para então entender determinada literatura.

 

Contexto histórico do Trovadorismo

A visão do mundo na época era teocêntrica, ou seja, Deus era o centro do universo, um ser absoluto. E o homem, por sua vez era um pequeno ser, que foi criado para obedecer a Deus aceitando o seu destino.

O sistema social e econômico era baseado no feudalismo. Senhores feudais, fidalgos, clero, servos e escravos compunham a sociedade, não havendo burguesia.

 

Trovadorismo – Início da literatura portuguesa

Segundo Massaud, o trovadorismo surge no momento de muitas guerras e lutas pela reconquista da terra portuguesa. E apesar do momento ser tao conturbado a literatura não foi prejudicada e pode se desenvolver normalmente. Terminadas as guerras, observam-se manifestações sociais típicas dos períodos de paz, como por exemplo, a literatura. Sendo assim, a poesia medieval portuguesa atinge o seu auge na segunda metade do século XIII.

Sua origem é bastante incerta, entre tantas controversas, surgiram 4 teses para explicá-la: Arábica, Folclórica, Médio-Latinista e Litúrgica.

Tese Arábica: baseada na cultura árabe.

Tese Folclórica: julga-se que a poesia medieval foi ariada pelo povo.

Tese Médio-Latinista: baseada na ideia de que a poesia teria se originado da literatura latina produzida durante a Idade Média.

Tese Litúrgica: considera- se a poesia medieval como fruto da poesia litúrgica cristã feita na mesma época.

Embora nenhuma dessas teses sejam suficientes para explicar a verdadeira origem do trovadorismo, todas elas devem então, ser consideradas.

Todavia, é da provença que vem o influx próximo. Ela torna-se no século XI um grande centro de atividade lírica, devido às boas condições oferecidas aos artistas pelos senhores feudais.

Outro fator importante que contribuiu muito para a nova moda poética, foram as Cruzadas. A poesia logo se adaptou à realidade galego- portuguesa.

Sendo assim, podemos dizer que didaticamente o trovadorismo inicia-se em 1198 ou 1189 com a cantiga da Ribeirinha. Essa cantiga foi o primeiro documento literário encontrado cuja data nao é clara e, por isso, a incerteza da data acima citada.

A cantiga da Ribeirinha, também chamada de cantiga de Garvia, foi escrita pelo trovador Paio Soares de Taveira que dedica para Maria Pais Ribeiro.

Com relação ao idioma do trovadorismo, na época não havia uma língua consolidada e, portanto, a língua utilizada era o galego-português.

Em 1418, quando Fernando Lopes é nomeado guarda-mor da Torre do Tombo, por D. Duarte, é marcado o final do trovadorismo. D. Duarte incumbiu Fernando Lopes de escrever crônicas sobre os reis portugueses.

Durante todo esse período, a poesia que teve maior destaque e, depois dela, vieram as novellas de cavalaria, os cronicoes e os livros de linguagem.

 

A poesisa trovadoresca

Trovador é o nome dado aos poetas que catarolavam. A palavra “trovador” quer dizer “achar a sua cantiga”.

Os poetas torvadores eram capazes de compôr cantigas, formando versos e criando a melodia. Eles exibiam suas poesias por toda região, visitando inclusive cidades vizinhas. Tais poesias eram cantadas ou entoadas, sendo, na maioria das vezes, acompanhadas por instrumentos musicais.

A poesia trovadoresca apresentava dois tipos bastante distintos:

  • Lírico – amorosa: falava sempre de um amor impossível ou um amor perdido. Era subdividida em cantiga de amor e cantiga de amigo.
  • Satírica: também subdividida em cantiga de escárnio de cantiga de maldizer, eram sempre cantigas que criticavam ou falavam mal de alguém de forma direta ou indireta.

Originando-se das cantigas provençais, as cantigas de amor exprimem a paixão infeliz, o amor não correspondido. Nessa poesia o trovador expressa todo o seu sofrimento, se autodenomina coitado, aflito e sofredor. Sua dor é maior do que de todos. Seu padecer é imenso, pois não alcança o amor desejado. Sua amada é inatingível. Ela é colocada em posição superior a ele sendo vista como sua senhora.

O trovador sempre manifesta respeito e subserviência a dama, sendo-o seu amor cortês e convencional, isto é, não existindo proximidade física.

A identidade da amada é preservada, o trovador não podia mencionar o nome dela, para isso usava um pseudônimo.

Quanto aos recursos paralelismo e refrãos para de maior musicalidade e salientar sua dor, que era avassaladora. Viver sem a sua senhora era um castigo pior que a morte.

Podemos citar como exemplo desse tipo de cantiga, a cantiga de Guavaia ou Cantiga da Ribeirinha de Paio Soares de Taveirós (século XIII).

No mundo non me sei parelha,

mentre me fôr como me vai,

ca já moiro por vós e ai!

mia senhor branca e vermelha,

queredes que vos retraia

quando vos eu vi en saia!

Mau dia me levantei,

que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, dês aquel dia, ai!

me foi a mi mui mal,

e vós, filha de don Paai

Moniz, e ben vos semelha

d’haver eu por vós guarvaia,

pois eu, mia senhor, d’alfaia

nunca de vós houve nen hei

valia d’ua correa.

 

( SPINA, Segismundo. “Paio Soares de Taveirós”. In: Presença da literatura portuguesa. São Paulo. Difusão Europeia do livro, 1969. P. 38-39).

 

De modo geral, as cantigas de amigo falam de uma relação amorosa concreta que acontece entre pessoas simples, que vivem no campo, seu foco principal é a saudade.

Essas cantigas são escritas por homens, mas apresentam o eu lírico feminino. O trovador se coloca no lugar de moça simples, que foi abandonada pelo seu amado. Sendo que os motivos podem ser: aventuras no mar, lutas em guerras, ou o surgimento de outra mulher.

Nessas cantigas, temos um amor não convencional, que insinua contato físico. O amigo é o namorado ou o amante. Mas além da donzela e de seu amante outras personagens são testemunhas do amor que a amiga dedica ao seu namorado. São elas: a mãe, amiga, dama de companhia. Sendo que a mãe, às vezes, representa um obstáculo para a realização dos encontros entre amigos.

Podemos ainda dizer que cada cantiga recebe um nome especifico dependendo do ambiente em que se realiza.

- Barcarola (mar)

- Sevanilha ou Pastorela (campo)

- Bailada (festa)

- Romaria (ambiente religioso)

Quanto aos recursos estilísticos usados, essas canções apresentam paralelismo e refrão. Sendo que os versos usados geralmente tem 5 silabas métricas, fazendo das cantigas de amigo mas regulares que as outras.

Cantigas satíricas

As cantigas satíricas visavam satirizar, criticar os mais diversos aspectos da vida feudal, sendo que o trovador atingia todas as camadas sociais, ninguém era excluído. Tanto a nobreza, o clero e o povo era o alvo das criticas. Não tinha classe social que era privilegiada.

Essas cantigas eram geralmente escritas pelos mesmos trovadores que compunham as cantigas líricas. A linguagem era informal, com expressões de baixo calão.

Sendo essas cantigas de grande valor., pois retratavam os costumes de uma época.

Há 2 tipos de cantigas satíricas, a de escárnio e a de maldizer.

Cantigas de escárnio: ocultava-se o nome da pessoa satirizada e o trovador por meio do humor e da ironia fazia a critica, mas de maneira indireta. Para isso, usava palavras de sentido dúbio, para não serem facilmente entendidas.

Cantigas de maldizer: Ao contrário das cantigas de escárnio, o trovador faz suas criticas de modo direto, explicito. Nessa cantiga identifica-se na pessoa criticada. Dessa forma são mais ofensivas. A linguagem usada é grosseira e ofensiva, incluindo palavras de baixo calão, geralmente tratam de conteúdo obsceno, indiscrições amorosas de nobres e membros do clero.

 

Telma

Acompanhamento musical

 

Como é sabido as cantigas tinham forte vínculo com a poesia e música, sendo acompanhadas de instrumentos musicais da época como:

Flauta, alaúde, viola, harpa, tambor, gaita, pandeiro e outros.

O próprio trovador fazia uso do instrumento ou podia deixar a parte musical para uma acompanhante jogral ou menestrel.

Cancioneiros

São coletâneas de canções, com o objetivo de guardá-las, preservá-las.

Dessa forma, não seriam esquecidas ou extraviadas com o tempo. E essa tarefa e a afeita por importante são três cancioneiro da ajuda, cancioneiro da biblioteca nacional e cancioneiro da Vaticana.

Novelas de cavalaria

Sua origem vem da Inglaterra ou/ e da França e tem caratês tipicamente medievais.

Elas são os primeiros romances, ou seja, longas narrativas em verso, surgidas no século XII. Contam as aventuras vividas pelos cavaleiros,. Deixando de ser cantadas para serem lidas.

Sua circulação nas  cortes foi intensa e ajudaram a divulgar os valores e a visão de mundo referente da sociedade dessa época.

Cronicões, nobiliários e hagiografias

Cronicões são textos de caráter mais documental. Registravam os acontecimentos, mas marcantes na vida dos nobres e dos reis.

Os nobiliários registravam nascimentos, casamento s e mortes de famílias nobres.

Hagiografias são textos que relatam a vida dos santos.

 

Telma

Alguns autores

Muitos são os autores que marcaram a época, mas iremos falar de alguns para conhecimento de todos.

Dentre eles estão:

João Garcia de Sousa

João Garcia de Guilhade - Trovador Português natural de Guilhade, em Milhazes. Um dos documentos mais antigos é datado de 1239. Não temos informações da sua data de nascimento e de sua morte, o que temos são informações que mostram a sua trajetória, mas nenhuma com datas concretas.

João Garcia foi um dos mais notáveis trovadores galego- português e deveria ser um dos cavalheiros a serviço da importante linhagem dos Sousa, o que se confirma pelo fato de seu nome surgir ao lado do conde D. Gonçalo Garcia de Sousa nas inquirições de 1258.

Desenvolveu sua arte poética por volta do século XIII. Autor de cantigas de Escárnio e Maldizer, dentre elas estão: 

-Ai, dona fea, fostes-vos queixar

-Amigos, quero-vos dizer

- Chus mi tarda. mias donas, meu amigo

- Esso mui pouco que hoj’eu falei

- Estes meus olhos nunca perderán

- Per boa Fe, meu amigo

- Treides todas, ai amigas, comigo

Entre outras...

Afonso Sanches

Afonso Sanches – Trovador galego- português, filho bastardo de D. Dinis e de D. Aldonça Rodrigues da Telha e pretendente do trono português, nascido por volta de 1288 e falecido por volta de 1328.

A maioria de suas cantigas era de amor, um amor sem correspondência, mas também escreveu cantigas de escárnio e de amigos.

Dentre suas cantigas estão:

- Dizia la fremozinha

- Estes, que m’ora tolhem mia Senhor

- Afons’Afonses, batiçar queredes

- Conhocedes e donzeia

-De vos servir, mia senhor, nom me vai

Entre outras...

 

 

 

 

Referências

1 Oliveira, António Resende de (1994), Depois do espectáculo trovadoresco. A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos séculos XIII e XIV, Lisboa, Edições Colibri.

 

Fabiana

 

 

D. Diniz de Portugal

D. Diniz I de Portugal, nascido em Lisboa em 1261, foi o sexto Rei de Portugal cognominado O Rei-Poeta pelas suas obras literárias. Filho de D. Afonso III de Portugal, foi aclamado em Lisboa em 1279, tendo subido ao trono com 17 anos.

Ao longo dos seus 46 anos de governo, foi quem instituiu a Língua Portuguesa como língua oficial da corte e criou a Primeira Universidade Portuguesa, dentre outros feitos de grande importância para Portugal.

Foi um grande amante das artes e letras. D. Diniz não só apreciava literatura, como foi ele próprio um poeta notável e um famoso Trovador. Tem-se conhecimento de 137 cantigas de sua autoria, distribuídas por todos os gêneros: 73 cantigas de amor, 51 cantigas de amigo e 10 cantigas de escárnio e maldizer, contribuindo, assim, com o desenvolvimento da poesia trovadoresca na Península Ibérica. Acredita-se ter sido o primeiro monarca português verdadeiramento alfabetizado. Culto e curioso das letras e das ciências, teria impulsionado a tradução de muitas obras para o Português. Durante seu reinado, Lisboa foi, pois, um dos centros europeus de cultura.

D. Diniz morreu em Santarém em 1325, e foi sepultado no Mosteiro de São Diniz, em Odivelas.

 

Pois que vos Deus, amigo, quer guisar

(Cantiga de Amor)

 

Pois que vos Deus, amigo, quer guisar

d'irdes a terra d'u é mia senhor,

rogo-vos ora que por qual amor

vos hei lhi queirades tanto rogar:

que se doia já do meu mal.

 

E d'irdes i tenh'eu que mi fará

Deus gram bem, poila podedes veer;

e, amigo, punhad'em lhi dizer,

pois tanto mal sofro, gram sazom há,

que se doia já do meu mal.

 

E pois que vos Deus aguisa d'ir i,

tenh'eu que mi fez El i mui gram bem;

e pois sabede'lo mal que mi vem,

pedide-lhi mercee por mi:

que se doia já do meu mal.

 

Manoela

Humanismo

(1418-1527)

 

O Humanismo se iniciou em Portugal quando Fernão Lopes foi nomeado por Dom Duarte em 1418 a cronista-mor da Torre do Tombo. Neste período muitas mudanças se operaram, novas ideologias se manifestaram, cuja principal se fez vista pela ideia de que o homem era a medida de todas as coisas.

 

- Início do Humanismo;

-Mudança de mentalidade a partir da ascensão de D. João I;

- Morte de Dom Fernando e início do Governo de Dona Leona Teles (sua mulher): resultou na Revolução Popular de 1383.

- Dinastia de Avis: durou até 1580.

 

Nesta fase Portugal anexa-se ao trono espanhol. Descoberta a patranha, o povo rebela-se, liderado pelo mestre de Avis, filho bastardo de Dom Pedro I. Essa revolução durou dois anos. Após o assassinato do Conde de Andeiro a massa popular elegeu Dom João I como “Mestre de Avis”. Ele renovou a cultura portuguesa ao escrever o Livro da Montaria, em virtude do apoio régio que recebeu para o desenvolvimento das Letras. Tornou possível o aparecimento de Fernão Lopes, que gerou uma nova visão à época da Literatura Portuguesa.

 

 

Humanismo Cultural

 

Marcado por descobertas e conquistas ultramarinas após a tomada de Ceuta em, em 1415. A cultura tornou-se Laica em grande parte e a educação do homem constitui o objetivo da literatura moralista. Onda de realismo.

As crônicas, a poesia e especialmente o teatro Vicentino documentam a sociedade dessa mutação histórica.

O acento tônico cultural transferiu-se ao homem como tal e não comparado a Deus.

Outros literários como Rui da Pina e Azurara testemunham, na metade do século, a presença desse humanismo organizado e desenfreado, constituindo então uma das mais importantes linhas de força da época literária seguinte.

 

Cronistas:

Fernão Lopes

Gomes Eanes de Azurara  (ou Azurara).

Rui de Pina.

Destaques:

- A Prosa Doutrinária;

-A Poesia. O Cancioneiro Geral;

- O teatro popular de Gil Vicente;

- Amadis de Gaula (1508)- (Quem a escreveu? Em que língua?).

 

 Danielle

 

 

 

Principais autores do Humanismo

 

Bem-vindos, prezados leitores;

Vamos apresentar nesta postagem os principais autores do movimento do Humanismo, infelizmente não é possível colocar todos. Desejamos à vocês uma boa e proveitosa leitura.

 

Dos grandes artistas do Humanismo italiano que influenciaram não só os artistas portugueses como outros foram os poetas Dante Alighieri ( 1265-1321)  e Petrarca ( 1304-1374).

 

 Francesco Petrarca (1304-1374)

Florentino, o "Pai do Humanismo", grande filósofo, estudou as obras de Cícero, Virgílio e Horácio. Descobriu as "Cartas" de Cícero e as "Instituições Oratórias" de Quintiliano. Foi o primeiro grande humanista do Renascimento e um dos italianos de maior prestígio do seu tempo. Foi encarregado pelos papas de importantes missões diplomáticas. Deixou numerosas obras em Latim, poemas e epístolas, entre as quais destacam-se "África", poemas sobre a segunda Guerra Púnica, em louvor a Públio Cornélio Cipião, O Africano, e "sonetos, canções e cânticos" que compôs em honra da bela Laura de Noves e que, pela beleza e pureza da forma, contribuíram para fixar o idioma italiano.

 

 

 

 

 

Dante Alighieri(1265 a 1321)

 

Dante Alighieri foi um  grande poeta mundialmente conhecido. Ele nasceu em Florença Itália no ano de 1265 e faleceu em Ravena (Itália), no ano de 1321.

Este grande artista estudou em sua cidade natal, e, neste mesmo local, iniciou-se na literatura de Virgílio, Estácio e Ovídio.
 
O amor que cultivou por Beatriz Portinari, quando ainda era adolescente, serviu de inspiração para a criação de sua obra mais importante. Nesta obra, Beatriz foi a figura central. Apesar de seu grande amor ter morrido bastante jovem, o poeta a fez permanecer viva em sua memória.  
Seu famoso poema “A Divina Comédia”, é divido em três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso. Nesta importante obra da Idade Média, Dante descreve o caminho de sua alma por estes três estágios. 
Embora esta sua grande obra trate dos valores medievais, ela foi capaz de ser valorizada e compreendida mesmo séculos depois.
 
Obras de Dante Alighieri:
 
Divina Comédia (obra mais importante e mais conhecida);                                                                                
De Vulgari Eloquentia ("Sobre a Língua vulgar");
Vita Nova ("Vida Nova");
Le Rime - ("As rimas");
Il Convivio - ("O Convívio");
Monarchia - ("Monarquia");
As Epístolas;
Éclogas;
Quaestio" de aqua et terra.

 

Autores de Portugal

 

Fernão Lopes(1378 ou 1383 à 1459)

 

 As crônicas históricas, como o próprio nome já diz, constituem-se em excelentes registros dos costumes e história de Portugal. Contudo, Fernão Lopes distingue-se dos demais historiadores devido à importância que dava às pessoas do povo, personagens coadjuvantes dos reis. Suas crônicas apresentam um espírito humanista, sendo relevantes tanto para a História como para a Literatura.
Além disso, as histórias são narradas com habilidade, assemelhando-se a novelas de cavalaria.

Obras: Crônica de el-rei D. Pedro I , Crônica de el-rei D. Fernando, Crônica de el- rei D. João.

Veja a seguir o trecho de uma crônica de Fernão Lopes:O cerco de Lisboa é um episódio da guerra entre Portugal e Castela, em 1384, durante a Revolução de Avis).



O cerco de Lisboa  Andavam os moços de três e de quatro anos pedindo pão pela cidade pelo amor de Deus, como lhes ensinavam suas madres; e muitos não tinham outra cousa que lhes dar senão lágrimas que com eles choravam, que era triste cousa de ver, e se lhes davam tomando pão como noz, haviam-no por grande bem.  Desfalecia o leite àquelas que tinham crianças a seus peitos, por míngua de mantimento; e vendo lazerar seus filhos a que ocorrer não podiam, choravam amiúde sobre eles a morte, antes que os a morte privasse da vida: muitos esguardavam  as preces alheias com chorosos olhos, por cumprir o que a piedade manda; e, não tendo de que lhes ocorrer, caíam em dobrada tristeza. .... Ora esguardai, como se fôsseis presentes, uma tal cidade assim desconforta a e sem nenhuma certa fiúza de seu livramento, como viveriam em desvairados cuidados quem sofria ondas de tais aflições! Ó geração que depois veio, povo bem aventurado, que não soube parte de tantos males nem foi quinhoeiro de tais padecimentos!(...)

 

Gil Vicente(1465-1536)                                                                                                                                                                                    

Poucos fatos são tidos como certos na vida de Gil Vicente. Nasceu por volta de 1465, provavelmente em Guimarães. Em 1509, o rei D. Manuel o nomeou ourives da rainha D. Leonor e em 1513 foi nomeado mestre da balança da Casa da Moeda de Lisboa e trovador. Aproveitou-se do prestígio que a função de organizador das festas da corte lhe conferia para, em 1502, encenar sua primeira peça, o Monólogo do vaqueiro ou Auto da visitação, na câmara da rainha D. Maria, em comemoração ao nascimento do futuro rei  D. João III. Durante trinta e quatro anos Gil Vicente fez representar mais de 40 peças  que nos dão hoje um  amplo panorama da sociedade portuguesa da época.

Inicialmente, recebeu influências dos poemas pastoris do espanhol Juan del Ensina. Contudo, mas acabou por utilizar elementos
tipicamente populares desenvolvidos na Idade Média como as narrativas das novelas de cavalaria, os milagres e mistérios que eram provavelmente
encenados nas igrejas e as farsas com objetivos satíricos. A isso tudo acrescentou o cômico, o religioso, o mistério, o lirismo trovadoresco e a crítica social. Esta última pode ser considerada como seu traço mais humanista.
As peças de Gil Vicente são rudimentares, com poucas rubricas ou indicações de cenários. Isso não quer dizer que sejam de pouco valor estético.
Temos que levar em conta que o texto dramático só está completo quando é encenado no palco. Segundo o crítico literário Massaud Moisés, as peças vicentinas são apenas indicações para a atuação, cabia, pois, ao ator improvisar sobre o texto base, ampliando as falas e incluindo mímicas.
Quando Gil Vicente encenava suas peças, o Renascimento já estava presente, contudo, esse grande dramaturgo, tentava resgatar valores medievais esquecidos.
 
Algumas obras:
 
Autos pastoris: Auto pastoril português e Auto pastoril da Serra da Estrela;
Autos de moralidade: Auto da barca do inferno, Auto da barca do purgatório e Auto da barca da glória, Auto da Lusitânia;
Farsas: Farsa de Inês Pereira, O velho da horta, Quem tem farelos?.
             
 Vejam um trecho do "Auto da Barca do Inferno" .
 
 
— Ó poderoso dom Anrique, cá vindes vós?... Que cousa é esta?...Vem o
 
Fidalgo e, chegando ao batel infernal, diz:
 
Fildalgo — Esta barca onde vai ora, que assim está apercebida?
 
Diabo — Vai para a ilha perdida, e há-de partir logo ess'ora.
 
Fildalgo — Para lá vai a senhora?
 
Diabo — Senhor, a vosso serviço.
 
Fildalgo — Parece-me isso cortiço...
 
Diabo — Porque a vedes lá de fora.
 
Fildalgo — Porém, a que terra passais?
 
Diabo — Para o inferno, senhor.
 
Fildalgo — Terra é bem sem-sabor.
 
Diabo — Quê?... E também cá zombais?
 
Fildalgo — E passageiros achais para tal habitação?
 
Diabo — Vejo-vos eu em feição para ir ao nosso cais...
 
Fildalgo — Parece-te a ti assim!...
 
Diabo — Em que esperas ter guarida?
 
Fildalgo — Que leixo na outra vida quem reze sempre por mim.
 
Diabo — Quem reze sempre por ti?!
 
Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!...
 
E tu viveste a teu prazer,
 
cuidando cá guarnecer
 
por que rezam lá por ti?!...
 
Embarca — ou embarcai...
 
que haveis de ir à derradeira!
 
Mandai meter a cadeira,
 
que assim passou vosso pai.
 
Fildalgo — Quê? Quê? Quê? Assim lhe vai?!
 
Diabo — Vai ou vem! Embarcai prestes! 
(...)
 
 

Garcia de Resende(1470 à 1536) 

Garcia de Resende nasceu em meados de 1470 e morreu em 1536. Filho de Francisco de Resende e de Beatriz Bota, porém fora criado pelo Bispo de Évora, Senhor D. Garcia de Meneses. Foi um dos poetas que animaram a vida cultural da corte.          

Um dos seus maiores dons era transformar os seus sentimentos e impressões em versos. Um dos seus maiores objetivos era preservar a poética da época, por este motivo organizou o Cancioneiro Geral, em torno de 1516. É a reunião de mais de mil composições poéticas em Português e Castelhano. A maioria das composições poéticas são amorosas e satíricas. Os poetas contidos no cancioneiro são do século XIV até o século XVI.

Em Miscelânia e Variedade de Histórias de 1554 são esboços históricos da vida nacional e internacional do seu tempo, escrito em verso. No conjunto, a sua obra escrita é de extrema importância para o conhecimento da época, já que nos descreve com elevado detalhe os usos, costumes, trajes, cerimônias, convívio familiar e relações sociais.

Escreveu as seguintes obras:
•Miscelânea (1554)
•Vida e Feitos de João II
•Trovas à morte de D. Inês de Castro
                                               

Trovas à morte de D. Inês de Castro 

"Estes homens d'onde irão?"

Qual será o coração                                          
tão cru e sem piedade,
que lhe não cause paixão
uma tão grã crueldade
e morte tão sem razão?
Triste de mim, inocente,
que, por ter muito fervente
lealdade, fé, amor
ao príncipe, meu senhor,
me mataram cruamente!

A minha desaventura
não contente d’acabar-me,
por me dar maior tristura
me foi pôr em tant’altura,
para d’alto derribar-me;
que, se me matara alguém,
antes de ter tanto bem,
em tais chamas não ardera,
pai, filhos não conhecera,
nem me chorara ninguém.

Eu era moça, menina,
por nome Dona Inês
de Castro, e de tal doutrina
e virtudes, qu’era dina
de meu mal ser ao revés.
Vivia sem me lembrar
que paixão podia dar
nem dá-la ninguém a mim:
foi-m’o príncipe olhar,
por seu nojo e minha fim.(...)

(Fontes de pesquisa: Maussaud Moisés: A Literatura Portuguesa-6ª edição-Cultrix, https://online.unip.br/disciplina/detalhes/4780, https://humanismo.spaceblog.com.br/604077 / Principais-Autores/ https://www.triplov.com/poesia/garcia_de_resende e http).
 
Cleide e Valtair

 

 

Influências da tradição Medieval na obra de Pessoa

Cancioneiro

 

Tivemos a oportunidade de conhecer pequena parte da obra  supracitada  e para finalizar os trabalhos no blog destacamos algumas poesias que nos agradou muito. São elas:

 

O sorriso audível das folhas

Sorriso audível das folhas
Não és mais que a brisa ali
Se eu te olho e tu me olhas,
Quem primeiro é que sorri?
O primeiro a sorrir ri.

 

Ri e olha de repente
Para fins de não olhar
Para onde nas folhas sente
O som do vento a passar
Tudo é vento e disfarçar.

 

Mas o olhar, de estar olhando

Onde não olha, voltou
E estamos os dois falando
O que se não conversou
Isto acaba ou começou?

 

Ao longe, ao luar,
No rio uma vela
Serena a passar,
Que é que me revela?

 

Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.

 

Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica.

                                                                                                                 Fernando Pessoa, 5-08-1921

 

Dobre

 

 

Peguei no meu coração

E pu-lo na minha mão

 

Olhei-o como quem olha
Grãos de areia ou uma folha.

 

Olhei-o pávido e absorto
Como quem sabe estar morto;

 

Com a alma só comovida
Do sonho e pouco da vida.

 

 

                                                                                                      Fernando Pessoa, 1913
 
 
Notamos através desses poemas a  influência da tradição Medieval como lirismos e uso de rimas. Os versos foram feitos em redondilhas e seguem  uma forma estrutural mas não tão rígida quanto as medievais. No poema O Sorriso das folhas, ele fez as estrofes com cinco(05) versos em cada uma dando uma caráter mais formal para o poema.
Outro aspecto observado é a musicalidade conseguida através das rimas. A natureza está presente lembrando as cantigas de amigo(Serranilha e Barcarola). O eu lírico parece conversar com a natureza.
 
 

Grupo Entre Amigos

 
 
 
 

 

 

Plano de aula

Plano de aula

01/05/2013 20:35
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